quarta-feira, 17 de outubro de 2012 | By: Unknown

Entrevista com ator humorístico Jair Kobe

Entrevista com ator humorístico Jair Kobe 


Esta entrevista foi realizada na tarde que antecedeu a apresentação do espetáculo "Guri de Uruguaiana", realizado pela RBS TV Cruz Alta, no dia 09 de Setembro de 2011. 


1 - Tudo tem o seu começo e sabemos que não foi diferente na carreira humorística. Em que momento surgiu este desejo de dizer: “é esta a minha vocação, meu projeto para a vida”; e quais as dificuldades que encontrou pelo caminho?

Sempre tive uma veia de humor em função da família: meu pai sempre muito divertido, meus irmãos... então, sempre teve na minha família essa coisa de se fantasiar, de criar personagens, criar situações.  E eu, a vida inteira brinquei com isso. Foi quando eu exercia outras funções, tive vários trabalhos: trabalhei com a propaganda, trabalhei com música (o Grupo Canto Livre) na década de 80, e eu tinha um restaurante com música ao vivo, e eu fazia as brincadeiras com os músicos: quando era pra tocar música baiana, me vestia de baiano e tocava pandeiro; fazia paródias de músicas baianas, música gaúcha... eu colocava um bigode e uma boina e já fazia umas brincadeiras também. E quando eu percebi, eu já havia criado vários personagens. Passei então, cada vez que convidado para uma festa, um evento de família e amigos, o pessoal dizia: “- Leva tuas malas com as perucas, tuas fantasias lá pra divertir a gente”. E eu chagava, fazia as brincadeiras e tal, e agradava muito. Ai eu digo: “- Não, perai um pouquinho, se eu estou agradando tanto assim eu vou me profissionalizar”. Então, agora em outubro eu completo 10 anos que eu comecei nesta carreira, comecei com 42 anos. Me dediquei à carreira de humorista aos 42 anos de idade.



2 - Você mencionou em seu que site que herdou o humor de seu pai. Qual de suas filhas herdou sua simpatia e humor? Auxiliaria nos primeiros passos?

Eu acho que minha filha caçula, Júlia, tem uma pegada muito interessante: ela é muito engraçada, faz vozes, ela cria personagens. Ela tem 8 anos de idade e a gente percebe assim que ela é mais “despachada” em relação a minha outra filha, a Rafaela que tem 12 anos.



3 - Em 2001 deu seus primeiros passos como humorista. Como foi subir ao palco pela primeira vez em “Seriamente Cômico”?

Olha, eu nunca tive dificuldade. Eu já estreei como se fosse um artista já veterano, porque aos 42 anos de idade já havia feito muita coisa e palco já não era novidade pra mim porque na década de 80 participei de toda esta história da música nativista com o Grupo Canto Livre. Chegando em 85, inclusive, com uma música classificada em um festival dos Festivais da Rede Globo, onde cantamos esta música, chamada “Este gaiteiro”. Interpretamos esta música no Gigantinho e depois na eliminatória, do Gigantinho fomos pra semifinal no Maracanãzinho; Maracanãzinho lotado. Então minha experiência de palco já vem de muito tempo, minha experiência com o público já vem de muito tempo. Eu fazia eventos durante um período que eu morei (6 anos) em Capão da Canoa e justamente antes de acontecer, onde eu tive este restaurante, e lá em Capão da Canoa eu organizava um evento todo o mês que era muito bacana, se chamava “Domingo na Praça”. Então eu ia num palco na praça e ficava a tarde inteira administrando um evento para o público. Então isso ai me deu muita “canja”, quando eu estreei em 2001, no Teatro do Ipê, com o espetáculo “Seriamente Cômico”  eu já tinha bastante tranqüilidade de palco. E ai você vai aperfeiçoando, o texto era novo, o roteiro era novo. Tinha que prestar bem a atenção no que estava acontecendo, mas a tranqüilidade de estar na frente do público eu já dominava.



4 - Para toda e qualquer apresentação denota tempo. Quantos ensaios chega a fazer e de onde surge inspiração para cada apresentação, por se tratar de um humor “stand up comedy”?

Na verdade o “stand up comedy” tem uma característica diferente, não é exatamente o que eu faço. Eu trabalho com personagens, eu trabalho utilizando vários recursos, coisa que o “stand up comedy” não utiliza. O “stand up comedy” não utiliza vozes, não utiliza adereços, não utiliza recursos externos. E eu utilizo bastante. Eu utilizo a música, eu trabalho muito com as trilhas, é um personagem caracterizado. Agora, quanto aos ensaios, isso ai, claro, eu faço show todos os dias. Então todo dia você vai aprendendo, adquirindo... você coloca um cara que se chama Caco, uma brincadeira de improviso em um dia, deu certo, funcionou... no outro dia você usa de novo, e sem se dar conta, já faz parte do texto, já faz parte do roteiro. Você nem se lembra quando que você colocou aquela história, entendeu? Não é uma coisa assim que você parte de um roteiro pré-estabelecido, o qual eu montei em 2008 quando eu levei este espetáculo para o teatro. Montei este roteiro, e a partir dali ele foi evoluindo. Então imagine, são 220 - 240 shows por ano, então a coisa vai evoluindo, a cada dia você vai agregando alguma coisa no roteiro.



5 - Quando houve a necessidade de ter um companheiro de palco? E como foi dar vida ao personagem Licurgo, o “gaúcho emo”?

Foi quando eu levei este espetáculo, o “Guri de Uruguaiana” para o teatro em 2008, que eu fui formatar este espetáculo eu já tinha imaginado que eu precisava de “um escada” , que eu queria um ajudante de galpão. E ai este nome Licurgo já era um nome antigo também que eu já tinha na manga, porque descobri que quando conheci uma pessoa lá em Capão da Canoa que se chamava Licurgo, que descobri que o nome do cara era Licurgo, e que ele era natural de Uruguaiana, eu fiquei imaginando: “-Bah, um dia vou criar um ajudante do Guri de Uruguaiana vai ter que se chamar Licurgo”. Então, surgiu assim... quando ele surgiu, na primeira temporada, ele não era “emo”, ele era apenas um baixinho e tal, não falava, já tinha estas mesmas características, mas ele ainda não era “emo”. Se transformou “emo” meio que sem querer, quando resolvi trocar a peruca nele, ficou uma franja que parecia um “emo” e a partir dali, começamos a colocar uns adereços. Na temporada seguinte já era o “gaúcho emo”. 




6 - Por caracterizar um gaúcho nos palcos, como foi a aceitação do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG)? Houve algum tipo de protesto como o que houve com o "tchê music"?

Não, não houve. Eu até achei que poderia acontecer uma manifestação mais reacionária, mas não houve porque eu já tinha o respaldo da classe artística. Porque eu não surgi de pára-quedas do nada. Todos as pessoas, os artistas consagrados que estão ai hoje na música nativista já são meus amigos de muito tempo, são meus parceiros de músicas e de festivais. Já participei de todos estes festivais, todo mundo me conhece do trabalho que eu fazia no Grupo Canto Livre. Então eu já tinha este conhecimento, esta aceitação porque eu venho da música. E o respaldo dos próprios autores: o Bagre Fagundes, o Nico Fagundes que é uma personalidade muito importante dentro da história da música e do nativismo gaúcho, do tradicionalismo gaúcho. Eles, na condição de autores da música não colocaram nenhum empecilho, viram que seria uma forma bem humorada, mais um veículo que estavam abrindo, mais uma oportunidade pra que o grande público conhecesse a obra deles que é a música “O Canto Alegretense” . E eles sabe disso, eu tenho certeza disso também, que “O Guri de Uruguaiana” está colaborando muito pela divulgação do trabalho deles. Então, não tive problema nenhum, nem nunca tive. Tem uma revista, a Aplauso, saiu uma matéria sobre a minha história com depoimento fantástico de Paixão Cortez. O ano passado lancei um livro, “Os Causos do Guri de Uruguaiana”, na Semana Farroupilha, dentro do Piquete IGTF, fiz um coquetel de lançamento do livro (lá dentro). Isso tudo é sinal de que eles estão entendendo que não é um deboche que eu faço, pelo contrário, é uma maneira de divulgar as tradições gaúchas num seguimento que necessariamente não tem acesso. Tu faz um show com grande cantor nativista, um grande artista nativista, tu tem um público bacana, um público focado, um público que é o público do nativismo. É o público da música gaúcha. Agora, um show de humor, você atinge crianças, atinge gente que gosta de nativismo, de sertanejo... então o público que você atinge é muito maior do que o segmentado. Então é um público que, tanto é que em função disso, os shows do “Guri de Uruguaiana”  tem sido recordes de público em todas as cidades que a gente participa.


7 - Em seu site percebemos novos personagens. Há novos planos para longo prazo?

Não, até que os personagens não são novos, são antigos. São os que exatamente começaram no espetáculo “Seriamente Cômico”, (o baiano, Brega Maurício Ronaldo, Mágico Sergay Baitabichóvsky e o Guri de Uruguaiana). Estes outros personagens, infelizmente, eu não estou podendo trabalhar porque o “Guri de Uruguaiana” está me absorvendo demais todo o meu tempo, e tem vários projetos para o “Guri de Uruguaiana”. Mas para os outros personagens eu tenho um show fantástico, que é o “Seriamente Cômico” que eu gostaria de colocar novamente no teatro, fazer uma gravação, lançar um DVD que ele é fantástico, é lindo. É maravilhoso este show, ele é um pouco mais musical, que tem vários personagens que hoje com o nome do “Guri de Uruguaiana” seria um golaço, seria uma barbada de vender DVD, de trabalhar o espetáculo. Mas eu não tenho condições de tirar o foco, porque agora o “Guri de Uruguaiana” tá me absorvendo 100%.


8 - Dez(10)anos de estrada como humorista... já participou de vários programas de televisão e mostrou que gaúcho também faz humor, não é apenas alvo. Qual foi a receptividade em Paris de um trabalho como o personagem “Guri de Uruguaiana”?

É, na verdade esta brincadeira da Europa, eu estava de passeio, fui passear e criei, já que não podia me ausentar 10 dias do público do Twitter, que são mais de 18 mil seguidores, que se você ficar 10 dias sem se comunicar com estes seus seguidores, você vai perder 10% deste público. É um público de Twitter que quer saber notícias diárias e você tem que postar 1, 2, 5 twitts por dia que é pra você manter o cara atualizado do que está acontecendo. Então eu precisava criar esta cena, que eu tinha que criar alguma coisa... por que é que eu fui pra lá? Então eu me dei o trabalho de sempre que eu saio  assim, eu levo aquela caracterização do “Guri de Uruguaiana” e em algum momento me caracterizo e a minha esposa me registra lá, e eu faço um clipezinho, um vídeo, conto uma história, pra criar esta cena de que o “Guri de Uruguaiana” estava acontecendo. Então eu criei esta cena toda de que havia recebido um telefonema, que era de Barcelona, e era uma proposta de emprego e eu fui pra lá e não consegui achar o emprego... descobri que havia um CTG em Paris e que eu iria pra lá. Pior que eu fui até o tal CTG e não achei! Então eu criei toda esta cena justamente pra poder continuar me comunicando com o público. Foi uma boa sacada, deu uma repercussão bárbara, no blog, no Twitter... foi muito legal.



9 - Até por falar em Twitter, você comenta como por reclamação que estava em um restaurante e que não conseguia acompanhar e ver como estava indo o Gre-nal.

É, o “Guri de Uruguaiana” inventou que tinha uma antena enorme lá em Paris, que é a Torre Eiffel, e esta antena não (mesmo com uma baita antena daquelas) pegava a Rádio Gaúcha. Então, e ainda ele comenta que a antena ainda não estava pronta, que tá só nos ferros, que quando ela estiver bem prontinha ia ficar a coisa mais linda do mundo.



10 - Nosso estado tem belezas ímpares em relação ao restante do país. A cidade de Uruguaiana é rica na produção do grão de arroz e cidade importante na agropecuária nacional. Por que “Uruguaiana” e não outra cidade para criar o personagem humorístico?

Porque este personagem surgiu no espetáculo “Seriamente Cômico”  onde o “sketch” dele eu ia pra Uruguaiana e lá eu contava uma história que eu ia fazer uma homenagem para uma pessoa lá de Uruguaiana e fiquei sabendo que o filho deste estancieiro de Uruguaiana tinha ido pra Europa com uma bolsa, e depois eu descobria que era uma bolsa de crochê. E o guri este de férias em pra Uruguaiana, retornando da Europa, o pai dele inventou de ir em um baile e pediu pra parar o baile e pediu pro filho cantar a música “Guri”. E o guri então diz pro pai: “- Olha pai, eu vou cantar, mas mudei um pouco a letra. Eu estava muito tempo fora na Europa, mudou um pouco meus hábitos”. Ai ele canta a música “Guri”, uma paródia muito engraçada do “Guri”. Então este personagem dentro do “Seriamente Cômico” ele surge em cima desta paródia da música “Guri”. E “Guri” é um clássico gravado pelo Cesar Passarinho e autores Júlio Machado  e João Batista Machado, que são  também uruguaianenses, esta música é da Califórnia da Canção Nativa. Então esta música é muito identificada com Uruguaiana. Então, “Guri” foi a música que deu o “start” deste personagem, a paródia “Guri”. E quando eu comecei a fazer os programas de televisão, eu precisava ter um nome para o personagem, ai então eu pensei e “-Bah, Guri de Uruguaiana... por que não Uruguaiana?”  Uruguaiana é uma cidade forte dentro da tradição, uma cidade que tem o maior festival da música nativista, um público da fronteira bem gaúcho, fala com uma particularidade também. Então, achei bacana, o “Guri de Uruguaiana”. E depois, ainda pra completar mais ainda, ficar mais interessante ainda o personagem,  que eu passei a fazer versões do “Canto Alegretense”, que é na verdade... entre o Alegrete e Uruguaiana existe uma certa rivalidade e então despertou mais, o que ficou mais engraçado é que o “Guri de Uruguaiana” só canta o Alegrete, entendeu? Então, tudo o que gera polêmica, gera discussão, acaba te dando uma mídia, entendeu?



11 - Esposo de Silvia Helena, pai de duas pequenas meninas, estudante de três cursos universitários não concluídos, funcionário de escritório de contabilidade, sacoleiro, dono de restaurante, fotógrafo, hoje humorista. Há mais algum sonho na vida de Jair Kobe?

Olha, eu estou muito bem agora... assim. Estou gerando trabalho para um monte de gente, entendeu? A gente está com um trabalho dentro da história do tradicionalismo. A gente está conseguindo levar informações assim bem legais sobre a cultura gaúcha pra todo o Rio Grande do Sul, e principalmente para as crianças, e também lá fora, levando para Santa Catarina e Paraná,e outros lugares que a gente tem viajado. Então é uma forma de desmistificar o povo gaúcho, aquela coisa toda, que é sério e sisudo. Levar de uma forma bem humorada algumas informações da cultura gaúcha: como a música, a indumentária, as suas danças, seus costumes, os seus hábitos como o chimarrão. Então eu fico bem feliz de estar podendo participar ativamente deste processo. Além do que e fora isso, levar a diversão e a alegria há um monte de gente. E as referências que a gente tem sobre estas questões são impressionantes, o quanto é importante para as pessoas ter assim um DVD em casa para poder dar risada com seu filho. Então é um trabalho que me gratifica. Eu posso ficar perto da música, uma coisa que é o “meu chão”. E então através do “Guri de Uruguaiana” eu posso cantar, tocar vários instrumentos... sempre brincando, sempre cantando, então eu estou muito feliz com este trabalho que eu venho realizando. Acho que o “Guri de Uruguaiana” vai continuar e eu vou me aposentar com o “Guri de Uruguaiana”, não tem como eu me aventurar em outro projeto, porque dentro do projeto “Guri de Uruguaiana” tem muita coisa pra ser feita.



12 - Há pouco tempo, início deste ano, foi gravado um vídeo intitulado “Gurillage People” com participação de Elton Saldanha, Daniel Torres, Jahmai e Cris Pereira, o Jorge da Borracharia. E em seus shows temos a participação especial de Daniel Torres. E como é ter a participação de amigos tão queridos nos seus trabalhos de divulgação do “Guri de Uruguaiana”?

Esta é uma grande brincadeira que agora já virou um compromisso de todo o ano lançar um clipe, cantar o “Canto Alegretense” em cima de um grande clássico mundial. E sempre que possível eu levo os meus amigos e como no “Guritles” teve o Rui Biriva e o Daniel Torres e agora no “Gurillage People” o Rui só não participou porque já estava doente e não pode participar, mas ai veio o “Jorge da Borracharia”, o Jahmai, o Elton Saldanha, todos os meus amigos. E agora para o próximo clipe eu já tenho compromisso com o Rafinha Bastos e Diogo Portugal  que querem agora gravar o próximo clipe que a gente vai fazer. Então a brincadeira do clipe é uma forma de juntar a gente neste entretenimento e também a parte de Daniel Torres em participar do espetáculo com a gente é uma forma de qualificar o espetáculo na parte musical.

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